Essa incompatibilidade de que falas, que tanto me consome, e pelos errados motivos não é mais do que pura obsessão. Eu não quero o que tu queres, tu não sentes o que eu sinto, sejamos perfeitos. Eu já não tenho mais nada para dar, nem tão pouco razão para sair, talvez tão pouca como para ficar a não ser aquele simples almejo de contacto, de um respirar teu sobre algo de mim. Razão que baste, dizer-se-ia outrora, razão idiota, nos tempos que correm, razão de quem não tem vida, razão de quem procura refúgios. Têm razão, assim como eu, mesmo pensando o oposto, e quase que aposto que tu também. Os tais errados motivos que me consomem, são tão errados que me consomem de errado jeito, consomem-me de esperança, essa maléfica inimiga das atitudes correctas. Ou correctamente erradas, como é óbvio, o certo já há muito está equivocado, anda perdido algures nas acções não feitas, nas felicidades não almejadas, nas alegrias não conquistadas. Todos se dão bem em perfeita sintonia, esta também há muito imperfeita. Por isso que os odiamos, falando no plural, odiamos pessoas, todos nós. Odiamos porque somos iguais, no fundo é só até perceber que nos odiamos a nós mesmos, até porque seria tarefa bem mais árdua, o cinismo interior. Poder-se-á afirmar então estarmos em imperfeita desconexão, sendo que a única partilha é sermos tão distintos, únicos.